“Sem título”

As aranhas são regularmente relacionadas ao submundo, predatórias, elas tecem calmamente a cama daquilo que as alimentará. É comum que nós seres humanos tratemos muitas vezes ações instintivas de animais como situações absurdas. Um animal muitas vezes precisa morrer para que outro viva. A morte é parte da natureza porque também é parte da vida. O submundo, o escuro, aquilo que vive na sombra, não precisa ser algo monstruoso, o desconhecido não precisa ser retratado com medo e escassez, podemos enxergar com outros olhos aquilo que muitas vezes temos a certeza de ser algo ruim. A morte pode ser farta e colorida. O outro lado não está em lugar algum porque o visível e o invisível coexistem, aqui mesmo.

‘’Se alguma coisa incorpora perfeitamente a magia do arsênico da natureza, é uma aranha sentada no centro de seu orbe recém-girado, esperando por presas. Sob a “lua-aranha” acobreada do final do verão, ou molhada de orvalho à primeira luz, teias onipresentes, às vezes esfarrapadas, brilham em árvores, arbustos, cavernas, vigas, criptas e folhas de grama. Todas as matrizes momentâneas e intrincadas de vida visível e invisível são evocadas na aranha e sua teia cativante.’’